quinta-feira, 25 de junho de 2009

SISTEMA CARDIOVASCULAR NO EXERCÍCIO

Fluxo Sanguíneo Muscular
O denominador comum final da função cardiovascular no exercício consistem em fornecer oxigênio e outros nutrientes aos músculos. Para essa finalidade, o fluxo sanguíneo muscular aumenta drasticamente durante o exercício. A figura abaixo ilustra um registro do fluxo sanguíneo muscular na panturrilha de uma pessoa por um período de 6 minutos durante forte contração intermitente.

Devemos observar não apenas o grande aumento de fluxo - cerca de 13 vezes - , mas também a redução do fluxo durante cada contração muscular. Esse estudo permite duas inferências: (1) O próprio processo contrátil diminui temporariamente o fluxo sanguíneo muscular, visto que o músculo em contração comprime os vasos sanguíneos intramusculares; por conseguinte, as poderosas contração tônicas podem causar fadiga muscular rápida, devido à falta de suprimento de oxigênio e nutrientes em quantidades suficientes durante a contração contínua. (2) O fluxo sanguíneo para os músculos durante o exercício pode aumentar sobremaneira.

A seguinte comparação ilustra o aumento máximo que pode ocorrer no fluxo sanguíneo do atleta bem treinado.


Por conseguinte, o fluxo sanguíneo muscular pode aumentar no máximo por cerca de 25 vezes durante o exercício mais intenso. Cerca de metade desse aumento do fluxo resulta da vasodilatação intramuscular causada pelos efeitos diretos do aumento do metabolismo muscular. A outra metade decorre de múltiplos fatores, dos quais o mais importante é, provavelmente, a elevação moderada da pressão arterial que ocorre no exercício, geralmente um aumento de cerca de 30%. A elevação da pressão não apenas força maior quantidade de sangue pelos vaos sanguíneos, como também distende as paredes das arteríolas e reduz ainda mais a resistência vascular. Por conseguinte, aumento de 30% na pressão arterial quase sempre pode mais do que duplicar o fluxo sanguíneo; essa elevação é somada ao grande aumento do fluxo já causado pela vasodilatação metabólica.
  • Produção de trabalho, consumo de oxigênio e débito cardíaco durante o exercício


A próxima figura ilustra as inter-relações entre a produção de trabalho, consumo de oxigênio e débito cardíaco durante o exercício. Não é surpreendente que todos esses parâmetros estejam diretamente relacionados entre si, conforme indicado pelas funções lineares, uma vez que a produção de trabalho muscular aumenta o consumo de oxigênio, enquanto este, por sua vez, dilata os vasos sanguíneos musculares, aumentando assim, o retorno venoso e o débito cardíaco.

A seguir, são fornecidos alguns débitos cardíacos para dois níveis de exercício:


Por conseguinte, a pessoa normal destreinada pode aumentar o débito cardíaco em pouco mais de quarto vezes, enquanto o atleta bem treinado pode ter aumento de cerca de cinco vezes. Em alguns maratonistas, foram registrados débitos cardíacos de até 35 a 40 l/min.


  • Efeito do treinamento sobre a hipertrofia cardíaca e sobre o débito cardíaco


Com base nos dados citados acima, é evidente que os maratonistas devem alcançar débitos cardíacos máximos cerca de 40% maiores do que os obtidos pela pessoa não treinada. Isso resulta principalente do fato de que as câmaras cardíacas dos maratonistas aumentam cerca de 40%; juntamente com o aumento das câmaras, a massa cardíaca aumenta 40% ou mais. Por conseguinte, não apenas os músculos esqueléticos se hipertrofiam durante o treinamento atlético, mas também o coração. Todavia, o aumento do coração e a maior capacidade de bombeamento só ocorrem nos tipos de treinamento atlético de resistência, e não nos tipos de velocidade.

Apesar de o coração do maratonista ser consideravelmente maior que o da pessoa normal, o débito cardíaco em repouso é quase extremamente o mesmo da pessoa normal. Todavia, esse débito cardíaco normal é obtido por grande débito sistólico, com frequência cardíaca reduzida.

O quadro abaixo faz uma comparação do débito sistólico e da frequência cardíaca na pessoa não treinada e no maratonista.


Por consequinte, a eficácia do bombeamento do coração em cada batimento é 40 a 50% maior no atleta bem treinado do que na pessoa destreinada; contudo, existe uma redução correspondente da frequência cardíaca em repouso.


  • Papel do débito sistólico e da frequência cardíaca no aumento do débito cardíaco
A próxima figura ilustra as alterações aproximadas do débito sistólico e da frequência cardíaca quando o débito cardíaco aumenta de seu nível em repouso, de cerca de 5,5l/min para 30 l/min no maratonista. O débito sistólico aumenta de 105 para 162ml, ou seja, um aumento de cerca de 50% enquanto a frequência cardíaca tem um aumento de 250%. Por conseguinte, o aumento da frequência cardíaca é responsável, sem dúvida alguma, por maior proporção do aumendo do débito cardíaco do que o aumento do débito sistólico durante o exercício intenso. Em condições normais, o débito sistólico atinge seu valor máximo quando o débito cardíaco só aumentou até a metade de seu valor máximo. Qualquer aumento posterior no débito cardíaco deverá ocorrer por aumento da frequência cardíaca.

  • Relação entre o desempenho cardiovascular e a VO²max

Durante o exercício máximo, tanto a frequência cardíaca quanto o débito cardíaco sistólico aumentam por cerca de 95% em relação aos seus níveis máximos. Como o débito cardíaco é igual ao débito sistólico multiplicado pela frequência cardíaca, constata-se que o débito cardíaco é cerca de 90% do áximo que a pessoa pode atingir. Isso constata com o valor aproximado de 65% para ventilação pulmonar. Por conseguinte, podemos perceber facilmente que, em condições normais, o sistema cardiovascular é muito mais limitante para o VO²max do que o sistema respiratório. Por esta razão, propõe-se frequentemente que o desempenho que pode ser obtido pelo maratonista depende sobretudo de seu coração, visto ser ele o elo mais limitante no fornecimento de oxigênio suficiente aos músculos em atividade. Por conseguinte, a vantagem de 40% no débito cardíaco que o maratonista possui em relação ao homem destreinado comum, representa , provavelmente, o único benefício fisiológico de seu programa de treinamento.

  • Efeito da cardiopatia e da idade avançada sobre o desempenho atlético

Em virtude da limitação crítica imposta pelo sistema cardiovascular sobre o desempenho máximo nas provas atléticas de resistência, pode-se compreender facilmente que qualquer tipo de cardiopatia capaz de reduzir o débito cardíaco máximo irá acarretar redução quase correspondente da potência muscular passível de ser alcançada. Por conseguinte, uma pessoa com insuficiência cardíaca congestiva tem quase sempre dificuldade em atingir até mesmo a potência muscular necessária para sair da cama, muito menos para andar pelo quarto.

O débito cardíaco máximo das pessoas de idade mais avançada também diminui muito, verificando-se redução de até 50% entre os adolescentes e a pessoa com 80 anos. Nesse caso, também se verifica que a potência muscular máxima possível de ser alcançada apresenta-se acentuadamente reduzida.

GUYTON, A. C. Tratado de fisiologia médica. 9 ed. Guanabara Koogan.

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