quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mitos e verdades sobre os ENERGÉTICOS


Eles deixam o corpo mais acelerado, mas depois o cansaço vem em dobro...

Para enfrentar a agitação da balada ou para espantar o cansaço de uma noite mal dormida. Estes são apenas dois dos motivos para o consumo de energéticos, os hoje chamados de "refrigerantes para adultos".

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e Bebidas não Alcoólicas, entre julho e dezembro de 2008, o consumo destes produtos no Brasil foi de 11,7 milhões de litros.

No mesmo período de 2009, esse número já era de 17,3 milhões, um salto de 48,5%. Geralmente associada à festas, noitadas e a mistura com bebidas alcoólicas, a bebida produzida à base de substâncias estimulantes, que dão mais pique ao organismo durante um determinado período, também vem sendo relacionada a hábitos de vida saudáveis, como a prática de esportes.

No Brasil, uma das cinco marcas que disputam o mercado nacional, a TNT, é patrocinadora de 16 atletas olímpicos brasileiros. Seu representante mais notório é o nadador César Cielo, campeão olímpico e recordista mundial dos 50 metros livres.

Mas será que os energéticos são benéficos para a sua saúde? Ou, pelo contrário, podem trazer consequências ao organismo? E será que viciam? Numa competição, pode dar dopping? A lista de dúvidas que rondam os tais "refrigerantes" é grande.

A seguir, o fisiologista especializado em medicina esportiva, Jorge Zogaib, o personal trainer Edson Ramalho, as nutricionistas Roberta Stella e Patrícia Ramos e o clínico geral Flavio Tocci falam sobre os pontos positivos e negativos dos energéticos.

O que é um energético?

Energéticos são bebidas à base de cafeína e outras substâncias estimulantes, como a taurina e a glucoronolactona, que potencializam a resposta do cérebro aos estímulos, deixando o corpo mais ativo ou acelerado.

Sua fórmula faz com que a pessoa se sinta revigorada durante algumas horas o que causa uma disposição aparente. Mas a ação dos energéticos também tem efeito rebote para o organismo.

"É um meio falso de restabelecer o pique. Passado o efeito, você fica ainda mais cansado e sente os efeitos do estresse muscular", explica o fisiologista Paulo Zogaib.

Quando consumidas em excesso, as substâncias estimulantes causam ansiedade, agitação, cefaleia e, em alguns casos, apresentam grau de toxidade questionável, como a taurina e a glucoronolactona. "São substâncias que alteram o funcionamento de nosso organismo de forma brusca, por isso devem ser ingeridas com moderação e certa cautela", diz Zogaib.

Um energético hidrata o corpo?

Não, pelo contrário, é uma bebida diurética, que faz o organismo eliminar líquido. Segundo a nutricionista Roberta Stella, a principal característica dos energéticos é aumentar a resistência física devido à presença, principalmente, da cafeína. "Eles não foram desenvolvidos visando à hidratação e, por isso, não devem ser consumidos com esta finalidade, sendo necessária a ingestão de água para obter uma boa hidratação", explica.

Por que a combinação com álcool é perigosa?

Quando são consumidos em combinação com álcool, os energéticos provocam aumento da adrenalina, palpitações, suor e dependendo da quantidade ingerida, podem levar à desidratação já que os dois são diuréticos. Segundo Paulo Zogaib, a combinação do energético com o álcool é perigosa, porque leva a excessos de ingestão de ambas as substâncias.

"O álcool é um depressor do sistema nervoso central (ele retarda as respostas do cérebro aos estímulos), enquanto o energético é um estimulante, por isso, quando ingerimos álcool é preciso aumentar a dose de energéticos para se alcançar o efeito de euforia. A pessoa que bebe a mistura fica mais acelerada pela ação do estimulante e mais corajosa pela ação do álcool, o que pode ser perigoso", afirma o fisiologista Paulo Zogaib.

O energético tem a mesma função dos isotônicos?

Não. Para a nutricionista Patrícia Ramos, esta é uma substituição perigosa que pode levar a problemas mais sérios como a desidratação. De acordo com uma pesquisa realizada pela Unifesp, em dezembro de 2009, 20% das pessoas que bebem energéticos os consomem nas academias como se fossem isotônicos.

Os energéticos foram criados para amenizar a sensação de exaustão e cansaço, enquanto os isotônicos têm o objetivo de repor a água e os sais minerais que perdemos após uma atividade. "Os energéticos aceleram nosso cérebro e nossas funções, camuflando a sensação de cansaço. Já os isotônicos repõem nutrientes importantes. Trocar um pelo outro pode comprometer a saúde e o desempenho de quem não está atento a estas diferenças", explica Patrícia.

Faz mal tomar o energético em jejum?

O risco de tomar um estimulante em jejum está ligado a absorção de suas substâncias pelo organismo. "Um energético ingerido em jejum pode comprometer as funções do estômago e de todo o aparelho digestivo, além de potencializar os efeitos da bebida na medida em que sua absorção se torna mais rápida e os efeitos mais intensos", explica o fisiologista.


Tomar só energético, sem combinar com álcool, pode prejudicar a saúde?

O clínico geral explica que os energéticos, quando consumidos sozinhos, também fazem mal e que, apesar de serem muito mais perigosos quando combinados com bebidas e outras substâncias, acabam comprometendo a saúde, mesmo quando consumidos isoladamente, em função da alta dose de cafeína e de outros estimulantes.

Eles prejudicam o sono?

Sim. Em um primeiro momento você perde o sono e fica acelerado, porém, segundo Paulo Zogaib, acabado o efeito, o organismo precisa compensar as horas de sono perdidas e daí a pessoa tende a dormir mais. "Você fica agitado por umas horas e não dorme, depois, dorme demais para compensar o tempo perdido", explica.

Há interações perigosas com medicamentos?

Sim. O resultado da combinação de energético com medicamentos pode ser bastante prejudicial ao organismo. Se a pessoa já tem algum problema de saúde, tende a piorar. O uso isolado de estimulantes já altera as funções do organismo. "Se o remédio também for estimulante, por exemplo, poderá haver uma inibição de seu efeito", diz Zogaib.

Vicia o organismo a ponto de perder o efeito?

Sim. Assim como os demais estimulantes químicos (cafeína ou drogas, como a cocaína, dentre outros), eles deixam de fazer efeito se tiverem o uso for contínuo e a pessoa passa a ingerir quantidades cada vez maiores para obter o mesmo resultado. "Isso varia muito de pessoa a pessoa, mas em geral, o corpo acostuma e pede cada vez mais. Vira um círculo vicioso grave", explica Paulo.

Criança pode tomar? Por que é chamado de refrigerante para adultos?

Segundo o clínico geral Flávio Tocci, os energéticos são assim conhecidos porque apesar de não serem alcoólicos, apresentam uma dose alta de cafeína e de substâncias com nível toxicológico questionável, e o organismo de uma criança não está preparado para receber tamanhas doses. "Se um adulto já fica acelerado, imagine uma criança. Ela pode apresentar tremedeira, ficar nervosa e muito acelerada. Não é apropriado", explica.

Tem limite de consumo? Pode consumir todo dia?

Não deve ser consumido todos os dias, principalmente substituindo sucos, água ou refrigerantes tradicionais nas refeições. O clínico geral Flávio Tocci explica que não há nenhuma indicação positiva comprovada em relação aos energéticos e que ingeri-los uma ou duas vezes na semana não faz mal, mas que consumir este tipo de bebida todos os dias pode trazer complicações, assim como ocorre com a ingestão excessiva de qualquer outro estimulante.

Flávio explica que a quantidade exata permitida depende do organismo e da receptividade de cada pessoa, mas que, em geral, deve-se manter cautela com o consumo destas bebidas. "Tudo o que altera o funcionamento do nosso organismo deve ser consumido com moderação", continua.

Atleta pode consumir? Dá dopping? O treino rende mais após tomar um energético?

De acordo com o personal trainer, Edson Ramalho, o rendimento físico de qualquer pessoa aumenta depois da ingestão deste tipo de bebida:

"A pessoa rende mais por que os energéticos aumentam a frequência cardíaca e a temperatura do corpo, melhorando a resistência e a performance do atleta", explica o personal. Porém, Edson explica que apesar de serem liberadas pelo Comitê Olímpico, as substâncias que compõem os energéticos, quando ingeridas em excesso, podem caracterizar dopping.

"Eles são vistos como bebidas naturais, mas a quantidade ingerida poderia caracterizar dopping se os seus membros entendessem que o atleta fez uso destas substâncias intencionalmente para render mais na competição", explica Edson.

Dá para tomar pensando em rebater os sintomas da gripe, como o cansaço?

Para o clínico geral Flávio Tocci, os energéticos podem comprometer a recuperação de um paciente com gripe ou com algum outro problema, se consumidos em excesso: "O problema é combinar energético e remédios e acelerar um organismo que já está mais debilitado. Não faz mal se for consumido uma vez ou outra, mas quando o paciente apresenta qualquer problema de saúde, deve tomar cuidado para não agravar ainda mais seu estado", explica.

O energético engorda?

A nutricionista Roberta Stella explica que os energéticos contêm valor calórico semelhante a quantidade de um copo de refrigerante ou suco de laranja e, por isso, quem deseja emagrecer deve consumir com moderação.


Natalia do Vale (Portal da Educação Física - www.educacaofisica.com.br)

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